Em um dia já distante, embora nem tanto, testemunhei no supermercado uma criança observando uma lata de sardinha e a chacoalhando. De repente, foi repreendida pela mãe.
A criança disse que “deve ser ruim ficar numa lata, deve ser ruim ser sardinha”. A mãe comentou “que não tinha problema porque não é sardinha viva e que sardinha não sofre”.
Concluí que a criança talvez tenha pensado apenas na ideia de “estar na lata”, independente de estado, o que incitou reação.
A embalagem trazia imagens bem coloridas de sardinhas, como uma edição especial para acréscimo de ludibriação. Entendi que isso era relevante na proporção que não era.
A criança não demonstrou ter sido cativada pelas imagens; por seu caráter, em contradição, lúdico. Também não disse nada sorrindo ou com expressão de graça. Colocou a lata de volta no lugar e seguiu a mãe.
Continuei na seção de enlatados e imaginei como seria se as sardinhas ganhassem vida dentro das latas, com as embalagens estufando, estourando e elas espalhando-se pelo mercado.
Com o ressurgimento das cabeças e fixação de partes, sufocariam no chão, lambuzadas de óleo de soja. E o fim precedente, da água para a industrialização, se repetiria. Algum impacto teria?
“Sardinhas são ágeis, têm grande envergadura de sofrimento e grande capacidade de impulsionamento corporal em situação de dor”, lembrei.
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