Vacas não produzem leite pra mim nem pra você

Vaca e bezerro antes de serem separados definitivamente (Foto: Jo-Anne McArthur/We Animals)

Imagine carregar um bebê no ventre por nove meses, sentindo que existe outra vida dentro de você, e assim que ele nascer ser retirado do seu convívio. Esse tipo de privação é realidade comum na produção de laticínios.

Reflita sobre o nível de estresse da vaca e do bezerro nessa situação. No sistema industrial, não é incomum os bezerros mamarem poucas vezes, ou nem isso, se não forem considerados “interessantes” como matéria-prima.

Caso haja o interesse de comercializar vitela, é comum passarem dois dias com a mãe para serem amamentados com o colostro, o que previne doenças e evita que a carne do bezerro seja desqualificada comercialmente.

Depois são separados e confinados em gaiolas, baias ou qualquer outro espaço reduzido, onde muitos são alimentados com um leite artificial pobre em ferro e em nutrientes que ajudam a tornar a carne “mais tenra, macia”.

A carne classificada como ideal é obtida após a morte de um bezerro com idade entre três e seis meses. Para produtores que não têm interesse nesse tipo de mercado, a morte do bezerro pode ocorrer pouco após o nascimento.

Isto porque ele é considerado descartável ou apenas um efeito colateral de um processo. De fato, suas necessidades como ser senciente não são ponderadas, e a sua curta existência é apenas uma forma de assegurar a manutenção da produção leiteira. Afinal, uma vaca precisa gerar vidas para entrar no período de lactação. Sendo assim, isso nos leva a uma óbvia conclusão:

Se uma vaca produz muito leite, depois de passar por manipulação genética e ser condicionada a gerar volumes incomuns, ainda assim isso não significa que ela o faz para alimentar seres humanos, mas sim para alimentar seus filhos, assim como faziam suas ancestrais antes da intervenção humana.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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