Observaram o cordeiro ser pesado, com olhos saltados, e imaginaram se ganharia peso o suficiente até o esperado domingo
Para a Páscoa, um casal comprou com antecedência um cordeiro vivo, um animal ainda bem pequeno. Observaram-no ser pesado, com olhos saltados, e imaginaram se ganharia peso o suficiente até o esperado domingo.
Não conseguiam ver o cordeiro no cordeiro, a não ser o cordeiro que desejavam matar, atribuindo-lhe sentido sacrificial, em referência à crença no sacrifício de Jesus em benefício da humanidade.
O cordeiro só poderia ser o cordeiro dentro dos limites da utilidade. A ideia de “sacrificar” então era de “homenagear” e ao mesmo tempo compartilhar e saborear a carne do cordeiro, abstraído da infância.
Sua função, que ele não poderia reconhecer como função, seria somente morrer, e morrer da forma desejada, sem surpresas, sem espetaculização, sem desagrado.
Vislumbravam uma ação controlada, tranquila, enquanto alimentavam o cordeiro para que logo não fosse cordeiro. Seus movimentos, seus interesses eram ações que, percebidas, não eram interpretadas como mais do que uma ideia de finalidade – a finalidade determinada.
O interesse humano subtraía do cordeiro o que era sobre o cordeiro, sobre sua idade análoga à expressão infantil – embora de um alguém que não entendia mas obedecia.
Obedecer então fazia crer que o cordeiro poderia ser um fim em outro ser, ignorando que o obedecer vem também do condicionamento do ser, do que é constante limite para o ser.
Uma semana antes do abate, olhavam para o cordeiro e o cordeiro olhava de volta – os olhos do animal que logo não deveria ter olhos.
Desejavam que engordasse somente um pouquinho mais, mas o cordeiro parou de comer – resistiu em comer. Também deixou de beber. O cordeiro morreu na véspera da Páscoa, e na Páscoa já não tinham um cordeiro para matar.
Desistiram de realizar o almoço de Páscoa e participaram da celebração com outros familiares, onde encontraram um cordeiro assado.
Observavam a ausência da cabeça, a pele tostada, a exposição das costelas e as chamas em direção às pernas – o corpo atravessado por um espeto. O cordeiro era um cordeiro.
Leia também “Cordeiros estão vivendo cada vez menos”.
3 respostas
Você é uma voz poderosa na defesa dos animais. Parabéns e continue na luta.
Antonio, fico lisonjeado. Muito obrigado!
SEI QUE NÃO TENHO DIREITO, MAS ESTOU EXAURIDA DE VER NOSSOS IRMÃOS SOFRENDO ESTES HORRORES NAS MÃOS DO DITO SER HUMANO. UM DIA ALGO OU ALGUÉM IRÁ ITERVIR ? 😪