Aos 90 anos, Jane Goodall é importante voz contra o consumo de animais

Cientista deixou de comer animais há mais de 50 anos e tem manifestado cada vez mais sua oposição à exploração animal  

Foto: Jane Goodall Institute

Neste dia 3 de abril, a primatologista e antropóloga britânica Jane Goodall completa 90 anos. Nos últimos anos, ela tem se manifestado cada vez mais contra o consumo de animais. Em um artigo publicado em seu site, Goodall conta que deixou de comer animais há mais de 50 anos.

“Olhei a costeleta de porco no meu prato e pensei: isso representa medo, dor e morte. Então instantaneamente adotei uma dieta à base de vegetais.” Para ela, uma justa razão para não consumirmos carne é o sofrimento imposto arbitrariamente a tantos animais.

“A maioria das pessoas não percebe a indescritível crueldade sofrida pelos animais […]. E aqueles que sabem, não se importam. As pessoas me dizem que os animais são criados para tornarem-se comida – como se isso significasse que eles não são mais seres sencientes. Outros me pedem para não falar sobre isso, porque eles ‘amam os animais e são muito sensíveis’ – [pedem isso] para que possam comer porcos, bois e vacas sem sentirem culpa”, lamenta.

Goodall é uma das apoiadoras da campanha da organização Compassion in World Farming que pede que a Comissão Europeia invista mais em propaganda voltada à importância de uma sustentável e boa dieta à base de vegetais e que também reduza investimentos em anúncios que promovem o consumo de carnes, laticínios e outros produtos de origem animal. Ela também já participou de uma campanha das organizações Save Movement e In Defense of Animals contra a doação de animais como alimentos.

Em vídeo para a campanha Stop Animal Gifting Programs, Jane Goodall endossa que ações de combate à fome precisam ser concentradas em vegetais, não em animais. Segundo a cientista britânica, é muito melhor ajudar apoiando ou criando projetos voltados a uma alimentação à base de vegetais e métodos de irrigação sustentáveis nas comunidades, assim como apoiar uma agricultura regenerativa que melhore o solo.

Goodall é uma das cientistas que mais chamou a atenção para a relação entre consumo de animais e impacto ambiental durante a pandemia de covid-19, alertando que teremos de lidar com situações mais graves no futuro se não houver uma grande mudança no atual sistema alimentar.

Ao participar de uma conferência on-line da organização jornalística National Press Club (NPC), dos EUA, sobre o impacto da pandemia de covid-19 no mundo e as ameaças contínuas causadas pelas mudanças climáticas, a cientista fez a seguinte declaração:

“Se apenas parássemos de comer toda essa carne, a diferença seria enorme porque há todos esses bilhões de animais de fazenda mantidos em campos de concentração para nos alimentar, e, você sabe, áreas naturais são devastadas para cultivar grãos para alimentá-los”. Nessa declaração, a cientista não perde de vista a associação entre impacto ambiental e sistema alimentar baseado em animais como fontes de proteínas.

Jane Goodall também já participou de uma conferência no Parlamento Europeu intitulada “Pandemics, wildlife and intensive animal farming“. Na ocasião, ela afirmou que é por causa do nosso desrespeito aos animais silvestres e domésticos reduzidos a produtos de consumo que hoje os espaços naturais também estão se tornando ambientes em que as doenças podem atravessar a barreira das espécies e se transferir de um animal não humano para um humano. “Agrupamos cruelmente bilhões de animais no mundo todo [que serão mortos para consumo]”, alertou.

Vale lembrar também de uma entrevista concedida pela cientista ao programa Democracy Now!, em que ela explicou que assim como não comeria seu cachorro, não é capaz de comer a carne de outros animais.

“Sou vegetariana porque, você sabe, respeito os animais. Sei que todos eles são indivíduos”, declarou e acrescentou que porcos são animais mais inteligentes do que muitos cães. Jane Goodall também disse que vê com estranheza quando alguém diz que não acredita que o mundo está passando por mudanças climáticas em decorrência da displicência humana em relação aos animais e ao meio ambiente.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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