“Avaca”, um curta para refletir sobre o que é a carne

No filme que se passa em um matadouro, em vez de testemunharmos homens abatendo animais, o que vemos são partes desmembradas de uma vaca voltando à sua forma integral. Ou seja, as partes retomando a forma do todo, do animal como era

Dirigido por Gustavo Rosa de Moura e disponível no Mubi e no YouTube, “Avaca” é um curta-metragem experimental lançado pela Mira Filmes, sem diálogos e que serve para refletir sobre o que é a carne.

No filme de 12 minutos, que se passa em um matadouro, em vez de testemunharmos homens abatendo animais, o que vemos são partes desmembradas de uma vaca voltando à sua forma integral. Ou seja, as partes retomando a forma do todo, do animal como era.

A partir do filme é possível refletir sobre um exercício que não costuma ser feito pelos consumidores quando compram um pedaço de carne, que é imaginar o corpo em que estava aquela parte e a vida que existia naquele corpo.

Sem dúvida, o consumidor sabe que a carne vem do animal, mas isso não quer dizer que o consumidor pense no animal e o leve em consideração nesse processo violento de apropriação, e porque o animal para ele é comumente evocado como um meio.

O filme termina com a vaca em sua forma inteira, ou quase, um corpo morto e sem cabeça, o que permite também concluir que a vaca nas relações de consumo é um animal abstrato, sem face, e também porque, pela imposição, não existe nem deve existir para si.

Os pés amarrados por cordas e sua barriga voltada para o teto materializam o que é comum à exploração. Afinal, também refletem que não há nada a ser romantizado nessa dominação, porque estamos diante de um corpo que, se é meio por um interesse de consumo, é vulnerabilizado e brutalizado.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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