Em “Massacre no Texas”, humanos morrem como animais criados para consumo

No filme, uma criança é condicionada a não ver nada de errado em matar humanos, assim como somos condicionados a não ver nada de errado na matança de animais para consumo

O filme de terror “Massacre no Texas”, sobre a origem do famigerado Leatherface, criado por Tobe Hooper e Kim Henkel, apresenta uma criança sendo condicionada a não ver nada de errado na matança de humanos.

A criança é estimulada a matar humanos com a normalidade de quem é ensinado a matar um animal em uma pequena propriedade rural – alguém que é influenciado pelo meio a ver isso como parte aceitável da realidade, assim como somos condicionados a não ver nada de errado na matança de animais para consumo.

A princípio, Jed não reage bem, mas começa a mudar, pelos reforços que recebe o tempo todo, pelo que é naturalizado pela família. O filme também explora o subverter dessa realidade, porque são os humanos mortos em “Massacre no Texas” que são servidos como alimento, e para os porcos criados na fazenda da Família Sawyer.

Uma das cenas destacáveis é a de Jed na estrada, ainda criança, “fantasiado” com uma cabeça de novilho com a marca de um disparo entre os olhos – uma realidade bovina comum, que ocorre o tempo todo, sem que seja pensada como terror ou como reprovável. Afinal, se fosse, os hábitos da maioria seriam outros.

Assumindo uma “fantasia” de vítima do consumo humano, Jed atrai uma garota, e ela quem é abatida de forma extremamente violenta. Não há empatia em relação ao seu fim, assim como não há em relação ao de tantos outros animais (como o do novilho, que Jed não pode ser, mas faz de conta que sim) que também é fim no ser humano.

Jed, nessa ação, também é o animal como armadilha – uma armadilha que pode referenciar o “curral curvo” ou “curral circular” do matadouro, pelo qual passam por imposição os animais que não desejarão o que encontrarão, assim como a garota que também é atraída somente para morrer.

A carne humana exposta no filme é carne indistinguível da de outros animais – na sua forma despedaçada ou moída. Há nisso um esvaziamento do sentido da diferença. Ademais, em “Massacre no Texas”, o uso da pele humana em vez da não humana, se incomoda, é pela inconsideração sobre a pele não humana.

O filme que faz parte da franquia “Texas Chainsaw Massacre” está disponível na Netflix.

Leia também “‘O Massacre da Serra Elétrica’ e os animais que comemos” e “Como filmes de terror expõem a realidade dos matadouros”.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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