O que diria a galinha criada para botar ovos e terminada por sua carne? Segurou com delicadeza a cabeça da galinha, já imobilizada por outro par de mãos. Toque suave, que ainda não cortava – contrastava e dedilhava sem machucar – parecia massagem no pescoço, enganosa.
Matar galinha veio em forma de um dizer que é justo fazer sobre quem não tem mais nada pra oferecer. Deve a vida ser uma oferta? Galinha olhava pra cima. Toque deixou de ser toque. Acalmar só pra facilitar. É pela galinha ou pelo que será tirado da galinha?
Jeito de matar pra não estragar. Quem cortava, olhava só a garganta. Aberta, formava uma boca, como outra boca, que não dizia, mas comunicava sangue, que escorria pela faca e no chão pingava, devagar, abrindo-se mais.
Galinha queria se debater, sem poder. É assim. Ganhou mais volume, pelo desejo humano que era sobre estar fora. Sangue deve estar fora, para que a galinha vá embora e fique a carne. Carne também é fim do ovo.
Ficou uma cabeça caída presa a um pescoço amolecido. Olhos esvaziados. Alguém cutucou. Há libertação no corpo provisoriamente caído? Levam-no para um lugar, para outro e reduzem-no ao que querem. Ovo desaparece e com ele a galinha removida da própria carne. Pegam outra.
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Uma resposta
É lamentável a hipocrisia humana….Vive a pedir Paz e faz a vida dos animais o inferno….Falam amor ao próximo….E são cruéis, até covardes justamente com.seres tão Inocentes e indefesos…Procuram justificar o Leviatã que existe dentro do próprio ser humano….