Morre Thomas Lovejoy, pesquisador que alertou sobre o impacto da pecuária na Amazônia

“Um dos maiores problemas é o desmatamento motivado por atividades agropecuárias” (Foto: Paula Giolito/Folhapress)

Faleceu no Natal (25) o biólogo Thomas Lovejoy que dedicou mais de 50 anos aos estudos sobre a Amazônia, sendo considerado um dos mais importantes estudiosos do bioma.

Lovejoy, que foi vítima de câncer de pâncreas, é citado pelo Observatório do Clima como um pesquisador que teve papel decisivo em atrair atenção para a necessidade de criação de políticas de proteção da floresta.

Segundo o OC, nascido em Nova York, Lovejoy chegou à Amazônia em 1965, motivado por um doutorado sobre aves na Universidade Yale.

Seu primeiro artigo sobre o impacto do desmatamento foi publicado em 1970 e chamou atenção para a extinção de espécies de animais na Amazônia.

Em 2019, o “Padrinho da Biodiversidade”, como também ficou conhecido por ter cunhado o termo “biodiversidade”, concedeu uma entrevista ao Banco Mundial em que mais uma vez alertou para o impacto da pecuária:

“Infelizmente a pressão sobre a Amazônia está cada vez maior. Os lugares de maior risco são o sul e o sudeste [regiões do Pará, Mato Grosso e Rondônia], mas também há pressões surgindo em novos locais. Um dos maiores problemas é o desmatamento motivado por atividades agropecuárias.”

Mais de um milhão de quilômetros 

Lovejoy e o cientista climático Carlos Nobre, autores de estudo que revelou que o total da área desmatada na Amazônia chegou a um milhão de quilômetros quadrados em 2018, defendem que esse ponto de inflexão está muito próximo e que as secas das últimas décadas já são os primeiros sinais dessa mudança.

“Nos últimos anos, juntamente com o brasileiro Carlos Nobre, ele vinha estudando as formas como a mudança climática e o desmatamento se combinam para levar a Amazônia para um ‘ponto de virada’, a partir do qual a floresta entra num colapso sustentado e não é mais capaz de se recuperar”, destaca o Observatório do Clima, em referência ao estudo.

Em entrevista ao Banco Mundial, Thomas Lovejoy, disse que poucas pessoas sabem que a Amazônia produz cerca de metade de suas próprias chuvas, além de levá-las até o sul da Argentina, contribuindo para a produção agrícola.

“Se esse ciclo hidrológico se romper, poderá gerar um ponto de inflexão que resultará na conversão de partes da floresta tropical em savanas secas ou até mesmo em caatingas, além de afetar negativamente as chuvas e a agricultura em toda a América do Sul”, declarou.

Saiba Mais

Segundo o Observatório do Clima, em 1980, trabalhando no WWF, Lovejoy, juntamente com os biólogos Edward Osborne Wilson e Eliott Norse, cunhou o termo “diversidade biológica”, que usou pela primeira vez no prefácio de um livro naquele ano. No começo dos anos 1980, a comunidade científica e os ambientalistas passaram a usar o conceito em campanhas de conservação. Mais tarde, Wilson popularizou o termo, contraindo-o para “biodiversidade” em seu livro “Diversidade da Vida”, de 1988.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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