Se você fizer uma busca no Google sobre abate de animais no Brasil, não encontrará muitas imagens mostrando como isso ocorre no país. É mais comum aparecer imagens que não mostram o que é procurado e sim imagens genéricas de animais – até mesmo em fazendas, no pasto.
Isso ocorre também porque os grandes veículos ou os veículos promovidos pelo setor agropecuário reproduzem a visão dominante sobre esses animais, levando vantagem também na visibilidade obtida a partir dos sistemas de busca. Quem já viu alguma matéria de um grande veículo destacando o aumento do abate de animais no Brasil mostrando uma imagem de abate?
O abate é exatamente o que não aparece em muitas matérias sobre abate. Muitas, de “explícito”, se é que podemos chamar assim, mostram não mais do que pedaços de carne em ganchos nos frigoríficos – não há sequer uma imagem do olhar de um animal antes de ser morto. Ou seja, o foco é no produto, para não se pensar no que poderia ser questionado como produto, que é o próprio animal. E a maneira como isso é exposto, pela sua comum descaracterização, não gera incômodo nos consumidores, porque não é diferente do que elas já viram ou veem em açougues.
Mas se abater um animal é matá-lo para reduzi-lo à carne, então não mostrar isso é promover uma visão conveniente e desfavorável ao animal. Podemos encontrar em matérias sobre o aumento do abate de animais no Brasil até fotos que induzem uma ideia de que estamos diante de animais satisfeitos ou até felizes – como aquelas de expressões circunstanciais, com animais ao ar livre.
Em qualquer busca também por imagens sobre abate de animais ou sobre a realidade nos matadouros é mais comum que sejam mostradas primeiro imagens que não expõem essa realidade como é, e porque há um grande volume de imagens associadas a essa realidade que não são explicitamente dessa realidade. É perceptível que há um poder de sugestão nisso e um antagonismo à exposição da crueldade dessa realidade.
Isso é muito mais perceptível quando as buscas são em português do que em inglês, já que o volume de imagens realmente condizentes com essa realidade é bem menor, e principalmente quando a busca é por imagens de abate ou da realidade dos matadouros no Brasil. Isso também leva-nos à conclusão de que o que ocorre nos matadouros do país é pouco registrado e visibilizado em relação ao que é explícito sobre a matança institucionalizada de animais.
Mas se está tudo bem em relação ao que ocorre nesses locais, por que ser tão resistente em não mostrar o que ocorre lá dentro, não permitir registros? Ainda mais considerando o número tão elevado de animais mortos para consumo no Brasil. Afinal, por que ocultar qualquer parte do processo? Por que não visibilizá-lo como é?
Infelizmente não há como negar que há muitos consumidores que não querem ser “incomodados” por imagens sobre essa realidade, que mostram-na como é, sem romantizações. Eles preferem se ater a seus hábitos; não querem ter contato com o que pode ser incômodo à consciência.
Pecuaristas e a indústria da carne só têm a agradecer quanto a isso, porque o que eles fazem, que é afastar os consumidores dessa realidade, ao mesmo tempo em que oferecem algo indissociável dessa realidade, é também garantir que os consumidores estejam em sintonia com seus interesses.
Mas considerando o custo que isso tem para os animais, é justo que seja assim? Ademais, se há pessoas que não têm interesse em conhecer essa realidade, que justifica a principal reflexão desta publicação, que é o pequeno número de imagens sobre essa realidade no Brasil, e sua baixa visibilidade, há muitas outras que devem ter assegurado o direito de expô-la, mesmo que isso não garanta mudanças.
Leia também “É cômodo demais dizer que o problema do sofrimento dos animais está na indústria“, “Se o abate humanitário é tão correto, por que não é aberto ao público?” e “Imagens que expõem o sofrimento animal são importantes“.
Uma resposta
Falta exatamente transparência no abate porque a cena é chocante, violenta, em clima tenso e nervoso entre os animais.