De acordo com um estudo científico publicado ontem (15) no Neurology, periódico médico da Academia Americana de Neurologia, o consumo de carne pode aumentar o risco de demência. O estudo é resultado de uma parceria entre pesquisadores da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, do Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT), por meio do Broad Institute, dedicado à saúde, e do Mass General Brigham.
O estudo lembra que o consumo de carne já é conhecido como um fator de risco para doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2. E o avanço dos estudos têm levado a um reconhecimento de outros problemas associados ao consumo de carne.
Conforme o estudo, substituir a carne por leguminosas ou mesmo oleaginosas pode diminuir o risco de demência em aproximadamente 20%. “As diretrizes alimentares tendem a se concentrar na redução dos riscos de condições crônicas como doenças cardíacas e diabetes, enquanto a saúde cognitiva é discutida com menos frequência, apesar de estar ligada a essas doenças”, diz um dos autores, Daniel Wang, que é professor assistente do Departamento de Nutrição da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard.
“Esperamos que nossos resultados incentivem uma maior consideração da conexão entre dieta e saúde cerebral.” Segundo Wang, o estudo é baseado em décadas de informações detalhadas sobre saúde envolvendo mais de 133 mil indivíduos que começaram a ter sua saúde monitorada a partir da idade média de 49 anos.
O risco de demência aumenta ainda mais em relação ao consumo de carne processada (como salsicha, linguiça, bacon, etc) segundo o estudo – porque pode resultar em um acréscimo de 13%, ainda que seja necessário considerar também outros fatores que envolvam estilo de vida, status socioeconômico e histórico familiar.
A pesquisa também revela que função cognitiva objetiva em indivíduos que têm um alto consumo de carne processada também apontou para um envelhecimento cognitivo acelerado de 1,6 ano por porção diária média de carne processada.
Os pesquisadores também examinaram o declínio cognitivo subjetivo (SCD) autorrelatado, que pode preceder marcadores de declínio cognitivo em avaliações padrão. Um risco maior de SCD foi associado ao consumo de carnes processadas ou não processadas (como carne bovina, suína e hambúrguer).
O risco de MSC aumentou em 14% para aqueles que comem carne processada diariamente em comparação com o grupo de consumo mínimo, e em 16% para aqueles que comem uma ou mais porções diárias de carne não processada em comparação com aqueles que comem menos da metade de uma porção.
Ainda que a pesquisa seja considerada limitada pelos próprios autores, eles perceberam a ligação entre carne vermelha e risco de demência envolvendo o microbioma intestional.
O N-óxido de trimetilamina (TMAO), um produto da degradação da carne mediada por bactérias, pode aumentar a disfunção cognitiva devido aos seus efeitos na agregação de amiloide e tau, proteínas envolvidas na doença de Alzheimer. O teor de gordura saturada e sal da carne vermelha também pode prejudicar a saúde das células cerebrais.
“Estudos de coorte grandes e de longo prazo são essenciais para investigar condições como a demência, que pode se desenvolver ao longo de décadas”, observa Wang.
Clique aqui para acessar o estudo “Long-Term Intake of Red Meat in Relation to Dementia Risk and Cognitive Function in US Adults”.
Leia também “Consumo de carne é um dos fatores que pode elevar casos de câncer de intestino no Brasil“, “Mais um estudo relaciona consumo de carne a risco de problemas de saúde” e “Estudo sugere que não consumir carne pode fazer bem ao coração“.