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Doações de carne ao RS são uma estratégia do agro para não ser visto como parte do problema?

Veículos de mídia estão divulgando que “empresários do agro” prometeram doar duas mil toneladas de carne 

Diversos grandes veículos de mídia estão divulgando que “empresários do agro” prometeram doar duas mil toneladas de carne ao Rio Grande do Sul.

Considerando que é cada vez mais de conhecimento público e comum que a agropecuária é uma das principais causas das mudanças climáticas, será que quem é parte do problema realmente está ajudando ao ofertar e promover o que favorece o problema?

Doar carne em nome do “agro”, já que isso está sendo feito em nome de entidades do setor, também é querer favorecer uma boa imagem do agronegócio e da agropecuária. Afinal, há um aumento da divulgação de informações, mesmo que nem tanto nos meios convencionais, que associam a agropecuária e a indústria da carne com grandes impactos ambientais.

Esses impactos, como muitos já sabem (embora não o suficiente), são decorrentes tanto do desmatamento quanto da geração de gases de efeito estufa inerentes à criação de animais para consumo, além do desperdício de recursos naturais, como o uso excessivo do solo e da água.

Como houve uma divulgação em forma de anúncio dessa doação, e para que chegasse ao maior número possível de veículos de comunicação, isso revela que o objetivo também é favorecer a imagem do agro.

Logo não basta doar, é preciso também explorar a favor do agro o quanto se pode influenciar a opinião pública a partir de ações que são pequenas em relação à participação da agropecuária na geração de grandes problemas que impactam também no bem-estar humano.

Nesse caso, doar carne também é simbolicamente visar a continuidade da essencialização da carne. Assim a carne é colocada como algo que deve ser visto não apenas como “necessário”, mas como “um tipo de conforto”.

Porém é um enganoso “conforto”, se há uma relação com a subtração exatamente do que podemos chamar de conforto, já que a relação entre a produção de carne e impacto ambiental favorece situações que não imagino que alguém desejaria.

Ainda assim é previsível que muitas pessoas vejam as doações do agro somente com bons olhos, e porque desconhecem a participação da agropecuária em relação às consequências citadas ou porque não acreditam nessa relação de consequências.

Isso torna urgente pensar o quanto um hábito deve se sobrepor sobre interesses maiores, como o bem-estar, que tende a ser ameaçado ainda mais com o agravamento das consequências ambientais que são imponderadas em relação com o consumo, como as que atingem o Rio Grande do Sul.

Leia também “Impacto da pecuária é ignorado em tragédias como do RS“, “Como a pecuária brasileira gera grandes problemas ambientais” e “Não há como combater as mudanças climáticas sem combater a pecuária“.

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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