Fim do capitalismo não seria o fim da exploração animal

Para isso fazer sentido, a exploração animal precisaria ter surgido com o capitalismo

Foto: Aitor Garmendia

É um equívoco afirmar que o fim do capitalismo seria o fim da exploração animal.

Para isso fazer sentido, a exploração animal precisaria ter surgido com o capitalismo. O especismo precede o capitalismo, assim como precede o colonialismo e o cristianismo.

Posso dizer que o capitalismo favorece, intensifica e brutaliza mais a exploração animal no intuito do lucro, mas não posso dizer que o capitalismo é “razão” da exploração animal.

Quando refiro-me também a como a moral cristã ocidental favoreceu a exploração animal, não estou atribuindo a ela toda a responsabilidade sobre a crença na legitimidade da exploração animal.

Dizer também que o colonialismo é responsável pelo consumo de animais só faria sentido se isso ocorresse em lugares onde não se tinha o hábito do consumo de animais.

Pode-se dizer que implantou formas ocidentais de explorar e matar animais, mas não que tenha “inaugurado” a exploração e morte de animais.

Críticas conhecidas à exploração e consumo de animais existem desde pelo menos 500 anos antes da era comum, e infelizmente o especismo é um dos males mais antigos entranhados nas mais diversas constituições e conformações sociais.

Sem dúvida, o capitalismo é motor do sistema de criação intensiva de animais, mas não da extensiva, que precede o capitalismo.

Contudo o sistema intensivo não existiria se não fosse pela alta demanda por proteína animal, porque as condições em que os animais vivem hoje não pode ser dissociada do elevado interesse por produtos de origem animal.

Em uma sociedade não capitalista, mas altamente consumidora de animais, o que mudaria para esses animais se o destino deles continuasse sendo exploração e morte?

Há estudos que afirmam que não seria possível corresponder a essa demanda em um sistema de exploração que não fosse o atual (predominantemente intensivo).

Isso significa que na não superação do especismo a realidade desses animais não mudaria, principalmente em um mundo mais populoso.

É preciso ter cuidado para não promover a relativização da exploração animal, porque concentrar o raciocínio na ideia de que a exploração só é ruim por causa do capitalismo é enviar uma mensagem de que pode não ser sem o capitalismo.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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