Universidades apostam em alimentos à base de plantas

Universidades tradicionais como a de Cambridge, Sheffield, Helsinque, Harvard e Gautam Buddha, situadas no Reino Unido, Finlândia, Estados Unidos e Índia estão apostando em alimentos à base de plantas, reconhecendo que pelo menos para o meio ambiente a melhor alternativa é desacelerar ou cortar o consumo de alimentos de origem animal ou priorizar e estimular a ingestão de proteínas de origem vegetal.

Essa posição vai ao encontro do que é defendido também por numerosos estudos já publicados e divulgados pela Universidade de Oxford, Universidade de Minnesota, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Humane Society International (HSI), Farm Animal Investment Risk and Return (FAIRR), organização de sustentabilidade Ceres, Heinrich Boll Foundation e BBC, entre outros.

Levando isso em conta, o VEGAZETA preparou uma lista com algumas universidades e o que tem mudado desde que decidiram investir mais em alimentos à base de plantas ou a defender a redução ou corte do consumo de carne. Confira:

Com um compromisso iniciado em 2016, a instituição começou a oferecer mais opções de pratos à base de plantas, incluindo diversidade em ofertas de proteínas de origem vegetal (Foto: UCS)

Universidade de Cambridge

A tradicional Universidade de Cambridge, situada no leste da Inglaterra, está reduzindo suas emissões de carbono tirando a carne vermelha do cardápio. Com um compromisso iniciado em 2016, a instituição começou a oferecer mais opções de pratos à base de plantas, incluindo diversidade de proteínas de origem vegetal.

De lá pra cá, a medida que foi implementada como parte da Política de Alimentos Sustentáveis de Cambridge, já representa um corte de emissões de carbono de 10,5% e envolve a oferta de alimentos em 14 pontos de venda e em mais de 1,5 mil eventos realizados anualmente pelo serviço de catering da instituição (UCS).

Dados da instituição revelam que a mudança já trouxe uma redução de 33% nas emissões de carbono por quilograma de alimento e redução de 28% no uso de terra por quilo de alimento. As opções veganas e vegetarianas também foram estrategicamente disponibilizadas na cantina a fim de estimular os clientes a comprá-las em vez das demais opções.

Refeição à base de plantas oferecida aos estudantes de Sheffield como um “agrado de boas-vindas” (Foto: Sheffield University)

Universidade de Sheffield

Desde que realizou a sua própria pesquisa sobre o impacto do consumo de carne no meio ambiente, a Universidade de Sheffield, na Inglaterra, tem priorizado cada vez mais a oferta de refeições à base de plantas com boa diversidade de fontes de proteínas de origem vegetal.

O estudo publicado em julho deste ano aponta que um churrasco para quatro pessoas pode gerar mais gases do efeito estufa do que dirigir por quase 130 quilômetros com um veículo movido à combustível fóssil. Os cientistas decidiram avaliar o impacto do churrasco utilizando balões para representar o volume de gases do efeito estufa gerados pela carne assada.

A conclusão é que um típico churrasco equivale a mais de 200 balões de dióxido de carbono emitidos por cada participante – o que corresponde a cada pessoa dirigindo por pelo menos 32 quilômetros com veículo movido à combustível fóssil. Um dos pesquisadores do Instituto para Alimento Saudáveis da Universidade de Sheffield, Christian Reynolds, diz que mudar a dieta é uma das formas mais significativas de reduzirmos o nosso impacto no meio ambiente.

Sobre a pesquisa, a cientista Sarah Bridle, da Universidade de Manchester, enfatiza que a comida contribui com pelo menos 20% de todas as emissões de gases do efeito estufa: “Você sabia, por exemplo, que a produção de um hambúrguer de carne de 100 gramas libera gases do efeito estufa o suficiente para encher mais de 60 balões?”

No entanto, se em um churrasco os alimentos de origem animal forem substituídos por alternativas à base de vegetais a quantidade de balões cai para no mínimo 80, o que representa menos do que a metade das emissões de um churrasco convencional.

Além disso, a produção de carne é altamente ineficiente. Produzir um quilo de carne bovina requer 25 quilos de grãos – para alimentar o animal – e aproximadamente 15 mil litros de água. A escala do problema também pode ser vista no uso da terra: cerca de 30% da superfície terrestre é usada atualmente para a pecuária. Assim como os alimentos, água e terra são escassos em muitas partes do mundo, e isso representa uso ineficiente de recursos.

Carne vermelha será removida do cardápio em fevereiro de 2020 (Foto: (Markku Ulander – Lehtikuva)

Universidade de Helsinque

A Universidade de Helsinque, considerada a maior e mais antiga instituição de ensino superior da Finlândia, vai banir a carne vermelha do cardápio a partir de fevereiro de 2020, estimulando principalmente o consumo de fontes de proteínas de origem vegetal.

Reconhecendo o impacto da agropecuária, a intenção é reduzir sua pegada de carbono em 11% ao ano, para minimizar sua contribuição à crise climática. “A ideia surgiu enquanto pensávamos em nossa próxima ação de responsabilidade [ambiental]”, explicou Leena Pihlajamäki, diretora de operações da UniCafe ao canal de mídia YLE.

“Percebemos que essa é uma maneira de reduzir significativamente nossas emissões de dióxido de carbono. Estudos mostram que é uma das maneiras mais eficazes. A meta é ambiciosa, mas está longe de ser impossível”, avalia Leena. O UniCafe, que é responsável por todas as refeições oferecidas pela Universidade de Helsinki, serve 10 mil refeições só no almoço.

O primeiro contato da Universidade Harvard com o treinamento de culinária vegana da Humane Society International foi em janeiro de 2015 (Foto: HUDS)

Universidade Harvard 

Desde o início do ano letivo de 2019 os estudantes da Universidade Harvard, sediada em Cambridge, Massachusetts (EUA), ganharam mais opções livres de ingredientes de origem animal no cardápio. O motivo?

Alguns chefs do Harvard University Dining Services (HUDS) têm participado do programa intensivo de culinária vegana com a chef Wanda Branco e o chef Ken Botts, da Humane Society International. Entre os ingredientes mais utilizados estão legumes, frutas, feijões, oleaginosas e sementes.

E isso veio como resultado da própria preferência e demanda dos estudantes, que estão mais preocupados com o impacto de suas opções de consumo. Em uma pesquisa divulgada este na matéria “Plants at the Center of the Plate”, publicada no site da Harvard University Dining Services, o HUDS registrou que 57% dos estudantes disseram que é muito importante ter uma alimentação baseada em “proteínas limpas”, cereais integrais e vegetais.

O diretor administrativo David Davison explicou que durante muito tempo os chefs de Harvard eram qualificados para verem a carne como o elemento mais importante de um prato, inclusive como responsável pela definição dos sabores. O primeiro contato da Universidade Harvard com o treinamento de culinária vegana da Humane Society International foi em janeiro de 2015.

Em 2017, o serviço de catering da instituição incluiu um prato de proteína vegetal em todos os almoços e jantares. “No final do ano letivo, já havíamos servido quase 47 mil libras [mais de 21 toneladas] a mais do que em 2016. É incrível ver a nossa equipe abraçar novas formas de pensar. Eles estão provando essas novas receitas e estão empolgados com as possibilidades. Eles estão energizados pelo trabalho”, garantiu Davidson.

O Harvard University Dining Services, que serve mais de 25 mil refeições por dia, opera em 13 refeitórios, 15 cafés, uma cozinha kosher e oferece serviços completos de catering.

Universidade Gautam Buddha (GBU)

A Universidade Gautam Buddha (GBU), sediada em Uttar Padresh, no Norte da Índia, formalizou o compromisso de servir quase um milhão de refeições veganas por ano a partir de 2020, assim substituindo muitas refeições que contam com alimentos e ingredientes de origem animal.

O compromisso é resultado de uma campanha da organização Vegan Outreach, que tem ajudado instituições a adotarem mudanças no cardápio, visando oferecer opções mais benéfica aos animais, ao planeta e às pessoas.

“Assumimos o compromisso porque queremos reduzir nosso impacto no meio ambiente. Uma das maneiras mais fáceis de fazer isso é por meio de mudanças na comida servida no campus. Esperamos que outras universidades sigam nosso exemplo e se tornem mais ecológicas”, disse o porta-voz Shri Bachchu Singh, da GBU, segundo informações da revista VegNews.

“De indivíduos a grandes instituições, todos estão começando a fazer a conexão entre a agropecuária e as mudanças climáticas”, disse Aneeha Patwardhan, diretora de programas da Vegan Outreach India. E acrescentou: “Aplaudimos essa crescente conscientização e estamos aqui para apoiar quem quiser agir em relação a essas questões.”

 

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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