Em livro póstumo, Rita Lee detona rodeios

Cantora critica quem nega a crueldade dos rodeios para ganhar dinheiro

No livro póstumo “O mito do mito”, que mistura realidade e ficção, a cantora e compositora Rita Lee critica quem nega a crueldade dos rodeios para ganhar dinheiro.

Na segunda metade do livro, em “2h – Duas badaladas”, ela deixa claro que se há um lugar onde seus fãs jamais a veriam é em um rodeio. “Eu odeio rodeio! Conheço de cadeira a saga dos pobres bichos nesse local.”

Rita Lee lembra na obra que a mídia já chegou a fazer parecer que suas declarações contra o rodeio eram uma guerra contra o sertanejo, o que tirava o foco do que ela realmente criticava, que é a crueldade do rodeio, apoiada por tantos sertanejos.

“Uns dez anos atrás, a mídia andou concluindo que eu estaria declarando guerra não aos rodeios, e sim aos artistas sertanejos. Não é o caso, o que acontece é que eu não tenho nenhuma boa vontade com quem vende o prestígio de sua fama para qualquer tipo de evento que humilha e tortura bichos publicamente”, consta no livro.

Segundo Rita Lee, o problema no sertanejo é que é o estilo musical onde os artistas mais fazem vista grossa para a crueldade do rodeio, principalmente se a prioridade é o dinheiro.

“Sei que alguns famosos dão um migué sobre os campos de concentração de animais, outros nem querem saber, contanto que recebam cachês superfaturados. Vem cá, o que custa o artista se informar sobre onde mete seu bedelho?”, critica.

E continua: “Existe grana bendita e grana maldita. Não sei se você sabe, mas sedém não provoca cócegas, provoca dor. Ou você também acha normal os bezerrinhos serem laçados com requintes de crueldade?”

Rita Lee, em um diálogo publicado no livro, lida com uma pergunta muito comum de ser feita por pessoas que capciosamente querem antagonizar a defesa dos animais, como se defendê-los significasse antagonizar a defesa de seres humanos em situação de vulnerabilidade.

A falta de sentido em estabelecer um conflito entre as duas questões é tratada com deboche por Rita Lee:

“Mas não acha que existe muita criança pobre no mundo para se preocupar com bichos? — Tenho um ótimo lugar para você enfiar sua teoria… — Dá uma porrada nesse inútil, agora! — Eu estava quase fazendo aquilo que o ponto me sugeria… — Paro por aqui antes que eu perca a calma com o doutor.”

Rita Lee também referencia outras preocupações que ela tinha em relação aos animais, que vão desde a oposição ao consumo deles até a criação e reprodução de cães para obtenção de lucro:

“E que a minha fã-verdinha baixe e comece a falar de abatedouros, farras do boi, vaquejadas, zoológicos, animais em circo, touradas, criadouros de animais ‘de raça’, carrocinhas, rinhas de galo, charretes, cavalinhos abandonados depois de uma vida de exploração e outras aberrações. — Favor não contar do nosso plano de jogar as bombas, hein! — lembra Vivi.”

A última frase encerra sua rejeição à exploração animal e defesa da libertação animal.

Referência

LEE, R. O mito do mito. 1. ed. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2024. 184 p.

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Jornalista (MTB: 10612/PR), mestre em Estudos Culturais (UFMS) com pesquisa com foco em veganismo e fundador da Vegazeta.

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